segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ad Nauseum / Ab Aeterno

Como hoje não tive tempo para pensar em banalidades existenciais, vou compartilhar o único sentimento intenso que tive: náusea.

Nessas últimas semanas, tenho sido agraciada todos os dias pelo horário eleitoral gratuito no caminho para o trabalho.

De início, confesso que o desfile de ignorância enlatada me divertia. A total ausência de senso do ridículo combinada ao cinismo explícito criava uma comédia de humor negro de primeiríssima qualidade.

Estavam lá todos os elementos: um protagonista desonesto e simplório, uma série de ações atrapalhadas e uma platéia disposta a desprezar esse indivíduo (tão próximo de nós) como um objeto de expurgo coletivo.

Mas, hoje, aquela sombra refletida da qual ria fitou-me de volta. Estava lá, pública e orgulhosa, exibindo tudo o que mais desprezo em mim mesma e rompendo com minha suposta humanidade.

Covardemente, quis apenas silenciar aquela voz fanha, desligar-me da realidade e abdicar do meu papel no mundo...

Entretanto, estou irremediavelmente inserida neste universo. Cada respiração, cada pulsar — e cada pensar — contaminando meu interior e tornando-me outra, mais próxima de quem realmente sou.

Ao escolher a vida (pois, sim, nossa liberdade avassaladora nos permite escolher até isso) escolhi também os outros, a dor, a morte.

Em nome da graça, submeto-me ao caos. Que a incerteza e a angústia me tomem e me façam viva, que meu semelhante me arrebate com seu mistério insondável e mude meu olhar; que a certeza da morte brilhe como um sol poente sobre meus passos, sem nunca ofuscar a beleza do caminho.

E que acabe logo a propaganda política, para que eu possa voltar às minhas ninharias egoístas.

"Um mundo todo vivo tem grande força — a força de um inferno." (Clarice Lispector)

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