quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Reforma ortográfica

Altamente produtiva e necessária a nova reforma. Todos sabemos da importância de uma unificação ortográfica e reconhecemos o ônus da dispendiosa tarefa de traduzir textos entre as diversas variantes do português.

Como disse Bechara:

"A unificação significaria uma economia na edição de livros, pois não seria mais necessário editar uma versão para cada idioma. Além disso, a medida serviria de estímulo para que os países da comunidade se interessassem pela literatura alheia, mais acessível e de fácil compreensão se escritas em um idioma único".

Como se pode ver a partir dos exemplos abaixo, a extinção do trema aproximará os povos e reduzirá gastos, dado que os textos são praticamente idênticos, exceto pela grafia:

Do guia “Windows Vista para Portugueses*”:

Pode mover itens no ecrã arrastando-os. Para arrastar um objecto, aponte para o objecto no ecrã, prima sem soltar o botão principal, mova o objecto para uma nova localização e, em seguida, solte o botão principal”.

Já no “Windows Vista para Dummies”:

Você pode mover itens pela tela arrastando-os. Para arrastar um objeto, aponte para ele na tela, mantenha pressionado o botão principal, mova o objeto para outro local e solte o botão”.

*No português lusitano, o uso do pernicioso anglicismo “dummies” não se faz necessário.

Certo. Ironic mode off. Novamente, uma mudança estúpida é capitaneada pelo Brasil. As variantes do português são distintas o bastante em aspectos outros que a grafia para exigirem traduções mesmo após a reforma.

Como bem disse a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros de Portugal):

"identificadas as alterações, os aspectos facultativos e os casos de dupla grafia, torna-se gritante a manutenção das diferenças frasais e vocabulares e a ordem dos elementos entre as variantes do Português de Portugal e do Brasil, situações estas a que o acordo ortográfico não responde".

Línguas evoluem à semelhança de espécies biológicas. Uma mesma espécie dividida em duas populações isoladas geograficamente tende a originar duas novas espécies distintas com características próprias que refletem a adaptação ao novo hábitat.

Brasil e Portugal são países de culturas distintas, com processos históricos únicos e que receberam diferentes influências lingüísticas: nos exemplos acima, fica claro o fato de que o Brasil, por diversos fatores culturais, é muito mais aberto a anglicismos do que Portugal, que prefere traduzir vários dos termos ingleses usados na informática. Além disso, o Brasil, com sua população formada por descendentes de africanos, alemães, italianos, libaneses etc, possui uma vasta gama de palavras vindas dos idiomas desses povos que só contribuíram para enriquecer -e diferenciar- nossa língua.

Pode-se argumentar que o inglês, a língua mais falada e invejada do mundo, é perfeitamente entendível para qualquer um dos seus falantes, independentemente de sua variante. A isso se podem contrapor dois argumentos:

Primeiro, as variantes do inglês não estão tão isoladas entre si quanto as do português. Isso contribui para manter as “trocas genéticas” entre elas. A produção cultural de EUA e Inglaterra e os, até recentemente, fortes laços culturais que uniam os países da Commonwealth garantiam que houvesse um fluxo entre esses povos que criava uma maior unidade lingüística. Agora, pergunto: quantos aqui assistem a filmes portugueses ou já leram um manuscrito produzido em Angola?

Segundo, aqueles que acreditam que o inglês é uma língua hegemônica por ser homogênea ignoram as várias diferenças de ortografia entre o idioma britânico e o americano. Também nunca leram um jornal neozelandês com suas palavras vindas do maori pipocando nas páginas tão naturalmente quanto os nossos nomes tupis. Isso sem falar da obviedade da importância do poderio econômico para a adoção do inglês como língua mundial.

Portanto, que não me venham com uma idéia de um português mundialmente forte sem uma produção cultural e econômica compatível com essa condição. De outra forma, a reforma será apenas mais uma de nossas “Brasílias”: um esforço dispendioso e patético para anunciar um poder que nunca veio.


Artigo de onde foram tiradas as citações:
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=15754

Sites da Microsoft com os exemplos:
http://windowshelp.microsoft.com/Windows/pt-BR/Help/e725b43f-94e4-4410-98e7-cc87ab2739aa1046.mspx
http://windowshelp.microsoft.com/Windows/pt-PT/help/e725b43f-94e4-4410-98e7-cc87ab2739aa2070.mspx

Reinício

Estou de volta à superfície...