domingo, 21 de junho de 2009

Aemeth

Angústia. Uma das melhores inspirações para se escrever.

A necessidade de agir, quando trancafiada dentro da impotência, busca uma compensação, uma ação. Pode ser o ritual do chá para hipnotizar o tempo, ou mesmo uma leitura para despedaçar a realidade. Entretanto, a angústia, por algum motivo, sempre acaba por buscar o diálogo.

O destino compartilhado parece ter mais sentido, a vida falada parece ter mais brilho. Talvez seja mais fácil suportar uma tragédia anunciada. Talvez seja impossível comemorar uma alegria solitária.

As palavras costuram todos os momentos absurdos a que estamos submetidos e os transformam em uma história. Moldam átomos rejeitados pelas estrelas em corpos que, por uma breve fração de tempo, são capazes de romper o leito terroso do universo e, com um sopro - aemeth - trazem toda a beleza do infinito para o que seria apenas o movimento caótico de uma partícula.

As palavras são aquelas que constroem o que chamamos de existência.

Para isso, no entanto, é necessário que elas tragam consigo não somente o passado de cada indivíduo, mas também o futuro que define a todos nós. As palavras só dão significado à vida quando nos permitem encarar, nos olhos de outro, a morte. A experiência inconseqüente não precisa de explicações, o reflexo não-consciente é sempre cheio de ilusões.

O escritor é sedento por significado e, assim, por diálogo. De seu encontro com a morte alheia saiu não uma nova vida, mas uma auto-imolação antecipada.

Na tentativa de apagar a elegia que o atormenta, escolhe o silêncio e fica aprisionado em seu presente eterno. É nessa cela auto-imposta que ele sacrifica seus símbolos, um por um, em busca daquele que finalmente será verdadeiro e o trará de volta de sua dor. Dessas missas iconoclastas, ascendem esperanças perdidas em cartas que nunca atingiram seu verdadeiro destinatário...

E, ao final, resta apenas o anseio de, algum dia, voltar a falar...

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